sexta-feira, 29 de maio de 2009

Palestra Pública em Florianópolis - Os Fundamentos da Teosofia e as Leis Universais

Tema: Os Fundamentos da Teosofia e as Leis Universais

Data: 02/06/2009 (3a. feira)

Horário: das 20:00h às 22:00h

Local: Atman Amara ( www.atmanamara.com.br) Fone: (48) 3333 2311

Endereço: Rua José Francisco Dias Areias, 390 – Bairro Trindade

e-mail: get.florianopolis@sociedadeteosofica.org.br

Contato: (48) 9960 0637 - 3231 8833 (falar com Adolfo)

Observações: Os participantes da palestra são convidados para uma segunda reunião de aprofundamento do tema.

quarta-feira, 27 de maio de 2009

Revelação, Inspiração e Observação - Annie Besant

Aqueles que assumem com seriedade o estudo da Teosofia não devem ficar satisfeitos com a mera leitura da volumosa literatura Teosófica que foi derramada sobre o mundo durante os séculos passados e continua a fluir em nossos dias. Eles devem, também, se tiverem alguma aptidão interna para esta investigação, preparar-se para desenvolver as faculdades pelas quais podem verificar por si mesmos o que lhes é contado por outros. Mas em todo o caso, muito estudo teórico é desejável antes que se passe para o estudo prático e, na maior parte dos casos, não será possível desenvolver os sentidos mais sutis dentro dos limites da atual encarnação, embora possa ser construído um bom alicerce para este desenvolvimento na próxima. Assim, o estudo teórico deve ocupar uma grande parte do treinamento de cada estudante Teosófico, e sua atitude com relação a este estudo é uma questão de séria importância. O estudante necessita discriminar os livros que lê, e adequar sua atitude ao tipo de livro; deve procurar compreender o que significa Revelação, e o que é Inspiração, sabendo distinguir literatura revelada de literatura inspirada, e, a ambas dos registros de observações.

Algumas escrituras tidas como autorizadas estão por trás de todas as grandes religiões.

O Hinduísmo divide todo conhecimento em dois tipos - o supremo e o inferior. No inferior ele coloca todos os seus livros sagrados juntamente com qualquer outra literatura, com toda ciência, toda instrução; na categoria do supremo, ele coloca apenas o "conhecimento Daquilo através do qual todo o resto é conhecido". Uma vez que o supremo conhecimento é atingido e a iluminação é experimentada, todas as Escrituras passam a ser inúteis. Isso é afirmado com toda clareza e coragem numa conhecida passagem do Bhagavad Gita: "Todos os Vedas são tão úteis para um Brahmane iluminado quanto um reservatório de água num lugar coberto pelas águas". A revelação é inútil para aquele a quem o Ser está revelado.

A condição da liberdade intelectual para os budistas está contida no sábio conselho do seu Instrutor: "Não acreditem em uma coisa dita simplesmente porque é dita, nem em tradições porque vêm sendo transmitidas de um para outro desde a antigüidade; nem em rumores enquanto rumores; nem em escritos de sábios apenas porque foram sábios que os escreveram, nem na mera autoridade de seus próprios instrutores ou mestres. Mas devemos acreditar quando o escrito, a doutrina ou dito, é corroborado pela razão e consciência. Por isso tenho ensinado a vocês a não acreditar apenas por haverem escutado, mas acreditarem quando a crença ocorre a partir de sua própria consciência, e então agirem de acordo com isto e intensamente". Mesmo a revelação, deve ser confrontada com a pedra de toque da razão e da consciência; deve haver uma resposta a ela a partir de dentro, o testemunho interior do Ser, antes que posa ser aceita como verdadeira.

REVELAÇÃO

O que é revelação? É a comunicação, feita por um Ser superior à humanidade, de fatos conhecidos por Ele mas desconhecidos por aqueles a quem ele faz a revelação - fatos que eles não podem perceber pelo exercício dos poderes que desenvolveram até agora. Estes fatos podem ser verificados a qualquer momento por quem haja alcançado o nível do revelador, que pode ser um Avatar, um Rishi, ou o Fundador de uma religião. Eles “falam com autoridade", a autoridade do conhecimento, a única autoridade diante da qual todos os homens sensatos se curvam. Verificamos que estes grandes Seres não escreveram seus próprios ensinamentos; ensinaram mas não fizeram registros. Algum seguidor ou discípulo, talvez depois de muitos anos e mesmo séculos, registrou o que ele ou seus antepassados escutaram por isso, a revelação - quase sem exceção - é inevitavelmente, em alguma medida, colorida, estreitada e distorcida por quem a transcreve.

Qual deve ser a atitude do estudante Teosófico em relação a revelação? Ele deve tratar as escrituras do mundo com reverência, lembrando sua origem, mas não sentir submissão diante de nenhuma delas, sabendo que são transmitidas a ele através de vários canais. Deve usar seu melhor senso crítico, para separar a verdade essencial revelada de todos os acréscimos que podem haver se acumulado ao seu redor. Se já desenvolveu suas qualidades psíquicas mais elevadas, o estudante deve tentar investigar e distinguir o antigo do moderno e pesquisar os registros akáshicos para uma comparação, confirmação ou contradição da revelação tal como ela chegou até suas mãos.

E sem este equipamento externo, muita coisa pode ser feita através do desenvolvimento interno: ele pode desenvolver dentro de si mesmo seus próprios poderes espirituais; pode procurar, em meditação profunda, a verdade que brilha na revelação sob os muitos véus de ignorância e das construções errôneas e purificar de tal modo sua vida que seus corpos se tornarão translúcidos à luz do espírito dentro dele, iluminando as palavras escritas. O estudante Teosófico deve manter seu julgamento em suspenso diante das pretensões de cada revelação. Ela não é verdadeira para ele até que possa dar-lhe eco na voz de seu espírito, seu mais profundo Ser.

INSPIRAÇÃO

Que é inspiração? É a elevação das faculdades humanas normais por alguma influência externa através de um grau após outro de poder intelectual, moral e espiritual, até o ponto em que a influência externa pode até mesmo afastar o homem de seu corpo e usar este último para a expressão de outro indivíduo quando o novo possuidor é um Ser de uma estatura que transcende inteiramente o homem, a inspiração pode transformar-se em revelação.

Os graus inferiores de inspiração estão ao alcance da experiência de muitas pessoas. Será que você nunca sentiu, quando escutava alguém cujo poder e conhecimento eram maiores que os seus, que as suas capacidades mentais eram elevadas a um nível mais alto do que o nível que você podia alcançar sem ajuda? Em tais ocasiões você capta aspectos da realidade que até então eram incompreensíveis; você vê plenamente onde antes havia obscuridade; o campo de pensamento se torna iluminado, e os objetos são vistos em relações até então inimagináveis; você sente que você sabe. No dia seguinte você quer compartilhar com um amigo os tesouros que adquiriu, e fracassa: onde está a luz, onde estão as cenas distantes e amplas que seus olhos haviam percorrido? Sua mente mergulhou de novo em seu nível normal; a inspiração passou.

O que ocorre com as faculdades intelectuais ocorre com as faculdades morais. Você havia visto uma beleza desconhecida, havia sentido uma avassaladora admiração pelo elevado e puro: o que aconteceu com o ardor e a intensidade? Você foi elevado para um nível superior ao nível que você pode chegar sem ajuda, mas não obstante, o ideal moral e seu poder foram mostrados a você “na montanha", e o fato de que você já experimentou uma vez o seu poder que a tudo domina o deixará mais suscetível a ele no futuro, e virá o dia em que aquilo que você sentiu quando inspirado por outro se transformará no exercício normal das suas próprias faculdades morais.

Quanto aos graus mais elevados de inspiração, alguns de nós podemos saber o que é estar em presença dos Mestres e sentir a maravilhosa elevação da Sua presença. Não há necessidade de palavras nem de ensinamento; Sua presença é suficiente.

As faculdades intelectuais e morais daqueles que falaram ou escreveram sob inspiração foram assim estimuladas e erguidas a um nível muito acima do normal. Seus próprios temperamentos e caráteres dão colorido ao que dizem e deixam marcas no que escrevam. Mas escrevem e falam com muito mais nobreza e poder do que fariam sem ajuda. Assim podemos nos elevar a graus cada vez maiores de inspiração, até que atingimos o estágio em que a mente e as emoções do homem já não controlam seu corpo, mas este é controlado inteiramente por alguém maior.

Neste ponto a inspiração pode transformar-se em revelação. O processo em que tudo isto ocorre é muito simples. Sabemos que, devido à correlação entre as mudanças na consciência e as vibrações da matéria, cada mudança na onisciência é acompanhada por uma vibração da matéria apropriada pela onisciência e que forma o seu corpo; cada vibração da matéria de um corpo é acompanhada por uma mudança na consciência corporificada. Quando duas ou mais pessoas estão juntas, sendo uma delas mais evoluída que a outra ou outras, a pessoa mais evoluída, pensando, desejando, atuando, estabelece em seus próprios corpos mental, astral e físico, uma serie de vibrações que correspondem às mudanças em sua consciência; estas vibrações causam vibrações similares na matéria mental, astral e física que está entre ela e a pessoa ou pessoas menos avançadas presentes. Estas vibrações na matéria interveniente causam vibrações similares no corpo ou corpos vizinhos. Elas são imediatamente respondidas por mudanças correspondentes na consciência ou consciências corporificadas, e a pessoa ou pessoas colocadas assim en rapport com alguém mais avançado, pensam, desejam e agem a um nível mais elevado do que seria possível por sua própria iniciativa. Será mais fácil para elas responderem uma segunda vez, e assim sucessivamente, até que se estabeleçam permanentemente no nível mais elevado.

Resultados semelhantes podem ser alcançados através da leitura dos escritos daqueles que são mais evoluídos do que nós. Uma série de mudanças similares tem lugar, embora menos poderosamente do que quando estimulados pela presença direta. Além disso, o estudo reverente e determinado pode atrair a atenção do escritor. O conhecimento destas leis terá pouca utilidade para o estudante Teosófico se ele não se aplicar em sua própria ajuda e em favor dos outros ao seu redor.

Qual deve ser a atitude do estudante Teosófico em relação ao homem ou livro inspirado? Ele deve ser receptivo, paralisando todas as suas vibrações normais tanto quanto possível, e abrindo toda sua natureza para o impacto e influxo das ondas de vibração que se derramam sobre ele. Mas sua atitude necessitaria ser mais do que receptiva: deveria tentar sintonizar suavemente a si mesmo e cooperar com o influxo das ondas. Ele deveria tentar fortalecer as vibrações simpáticas, de modo que as mudanças correspondentes na consciência fossem tão completas quanto possível. Para isso ele deve fazer fluir, em direção ao Objeto inspirador, seu amor, sua fé, sua completa confiança e auto-entrega, pois só assim ele pode sintonizar seus corpos em harmonia com os corpos do Inspirador. Ele deve, na ocasião, esvaziar-se de suas próprias idéias e sentimentos, atividades, dedicando-se a reproduzir, não a iniciar.

Se você vai ler um dos livros inspirados do mundo - “A Imitação de Cristo”; “Os Versos Áureos de Pitágoras”, “A Luz no Caminho”; “A Voz do Silêncio” - será bom anteceder a leitura com uma oração ou um mantra. Então leia uma frase, releia, medite sobre ela. Saboreie-a mentalmente, absorva sua essência, sua vida. Assim o seu corpo sutil se tornará, ao menos parcialmente, sintonizado com o do autor inspirado, e repetindo suas vibrações você estabelecerá em sua consciência as mudanças correspondentes. Os livros inspirados têm um valor incalculável: são passos de uma escada situada entre a terra e céu, uma verdadeira “escada de Jacó" por onde sobem e descem os anjos de Deus.

OBSERVAÇÃO

Ainda há um terceiro tipo de livro que merece a atenção do estudante teosófico, mas em relação ao qual sua atitude deve ser inteiramente diferente da adotada frente ao que é revelado e inspirado. São livros contendo as observações de estudantes mais avançados, observações de estudantes que estão evoluindo no conhecimento e poder sobre os planos mais sutis, e ainda não alcançaram a estatura de um Homem Perfeito. Há livros escritos por discípulos como "A Doutrina Secreta" e "Budismo Esotérico", que não são registros de observações diretas dos estudantes, mas mais propriamente transcrições dos ensinamentos dos Mestres, nos quais podem aparecer erros de compreensão daqueles ensinamentos. A própria H. P. Blavatsky nos disse que havia, inevitavelmente erros em “A Doutrina Secreta”; e como nós temos lido naquele livro maravilhoso suas próprias descrições de quadros mostrados a ela pelo seu Mestre, há uma abertura para possíveis erros de observação: provavelmente estes não são sérios, na medida em que ela foi cuidadosamente ajudada e supervisionada durante a produção da obra. Estes dois livros se destacam do conjunto de nossa literatura, porque os Mestres participaram diretamente da sua produção.

Os livros de que falo são aqueles escritos por discípulos usando suas próprias faculdades normais, faculdades ainda em curso de evolução: livros que abordam principalmente os planos astral, mental e búdico, a constituição do homem, o passado de indivíduos, nações, raças e mundos. Com relação a estes, é preciso levar em conta que os estudantes em questão estão em processo de evolução, e as faculdades que eles usaram hoje estão mais desenvolvidas e alcançam planos mais elevados do que há dez ou quinze anos. Qual é a observação verdadeira? Em cada caso o olho dá testemunho verdadeiro daquilo que ele vê. As diferentes condições lhe impõem visões diferentes. Os livros dedicados a observações são inúteis, e até nocivos, quando o estudante Teosófico os trata como revelações ou inspiração ao invés de observações.

Qual deve ser a atitude do estudante Teosófico diante dos livros de observação? Vocês devem assumir a atitude do estudante científico, não do crente. Devem enfoca-los com uma clara inteligência, uma mente sagaz, um intelecto ávido, uma razão ponderada e crítica. Não aceitar como finais observações feitas por outros estudantes, mesmo que estes estudantes estejam usando faculdades que vocês ainda não desenvolveram. Devem aceita-las apenas pelo que são - observações sujeitas à modificação, correção e revisão, e mante-las dentro de uma visão flexível, como hipóteses temporariamente aceitas até que sejam confirmadas ou negadas por observações ulteriores, inclusive as suas próprias. Se elas iluminam obscuridades, se conduzem a uma sã moralidade, pegue-as e use-as; mas nunca deixe que se transformem em grilhões para sua mente nem obstáculos para seu pensamento. Estude estes livros, mas não perca o senso crítico; entenda-os mas deixe seu julgamento em suspenso; estes livros são úteis como auxiliares, mas perigosos como mestres; devem ser estudados, não adorados.

Não devemos aumentar o número já existente daqueles que acreditam cegamente, mas sim o número dos estudantes sóbrios e sensatos, que pacientemente formam suas próprias opiniões e educam suas próprias faculdades. Use seu próprio julgamento para cada observação que lhe for submetida; examine-a tão completamente quanto possível; critique-a do modo mais completo possível. Vocês não nos prestam um bom serviço quando transformam estudantes em papas e repetem, como papagaios, afirmações que não sabem se são verdadeiras. Além disso, a crença cega gera o ceticismo igualmente cego.

Já não será tempo de deixarmos de ser crianças e começarmos a ser homens e mulheres, compreendendo a grandeza das nossas oportunidades e a pequenez das nossas realizações? Já não é hora de oferecermos à Verdade a homenagem do estudo em vez da credulidade cega? Estejamos sempre prontos a corrigir uma impressão errada ou observação imperfeita, e a caminhar com olhos abertos e mente alerta, lembrando que o melhor serviço à Verdade é o exame. A Verdade é um sol que brilha com sua própria luz; uma vez visto, não pode ser rejeitado. "Que lutem a Verdade e a falsidade; quem alguma vez viu a Verdade perder uma justa confrontação?"


FONTE: Do livro “A DOUTRINA DO CORAÇÃO”, de Annie Besant, publicado no Brasil pela Editora Teosófica.

A Ciência e A Doutrina Secreta - Sylvia Cranston

“A Doutrina Secreta é a Sabedoria acumulada das Idades, e a sua cosmogonia por si só é o mais estupendo e elaborado de todos os sistemas; mesmo velado, como se encontra no exoterismo dos Purãnas. Mas tal é o poder misterioso do simbolismo oculto, que os fatos que ocupa­ram gerações inumeráveis de videntes e profetas inicia­dos, para serem ordenados, registrados e explicados atra­vés das desconcertantes séries do progresso evolutivo, se encontram todos registrados em umas poucas páginas de signos geométricos e hieróglifos. O olhar iluminado daque­les videntes penetrou o próprio cerne da matéria e regis­trou a alma das coisas, ali onde um simples profano, por sábio que fosse, somente perceberia o trabalho externo da forma. Mas a ciência moderna não crê na “alma das coisas”, e, portanto rejeitará todo o sistema da antiga cosmogonia. E inútil dizer que o sistema em questão não é fantasia de um ou de vários indivíduos isolados; que é um arquivo ininterrupto, cobrindo milhares de gerações de videntes cujas respectivas experiências eram levadas a efeito para comprovar e verificar as tradições, transmiti­das oralmente de uma raça antiga a outra, sobre os ensi­namentos dos Seres superiores e exaltados que velaram sobre a infância da humanidade; que durante longas eras, os Homens Sábios da Quinta Raça, pertencentes ao grupo salvo e resgatado do último cataclismo e das trans­formações dos continentes, passaram suas vidas apren­dendo, e não ensinando. Como o faziam? E respondido: comprovando, testando e verificando em cada esfera da Natureza as antigas tradições, por meio das visões inde­pendentes de grandes Adeptos; ou seja, dos homens que aperfeiçoaram ao mais alto grau possível seus organismos físicos, mentais, psíquicos e espirituais. Não era aceita a visão de qualquer Adepto, até ser confrontada e confir­mada pelas visões de outros Adeptos — obtidas de modo que se mostrassem como evidência independente — e após séculos de experiência”. (Helena P. Blavatsky)

Em 1988, por ocasião dos cem anos da publicação da obra “A Doutrina Secreta” [de Helena Blavatsky], foram realizados vários simpósios nos Estados Unidos, Europa e Índia. Em uma palestra na cidade de Culver, na Califórnia, o destacado teosofista norte-americano Jerry Hejka-Ekins observou:
[1]

“É muito pouco provável que algum crítico literário, examinando ‘A Doutrina Secreta’ em 1888, pensasse que esta obra pudesse ter mais do que algumas poucas edições. É uma obra de tamanho considerável, com cerca de 1500 páginas, cheia de termos filosóficos e religiosos do Extremo Oriente que contrastavam com a ciência do século dezenove e com as teorias agora descartadas. Mas, de qualquer modo, cem anos depois, ‘A Doutrina Secreta’ continua sendo impressa e ainda está sendo estudada... O que há em ‘A Doutrina Secreta’ que a faz perdurar e continuar influenciando o pensamento atual quando outras obras foram esquecidas há muito tempo? Talvez este livro pertença realmente ao século vinte e tenha sido escrito 100 anos antes do seu tempo... Se a autora não fosse capaz de antecipar as descobertas futuras, o livro teria se tornado obsoleto em pouco tempo diante do avanço da ciência. No entanto, HPB fez a predição de que ‘só no século vinte, partes desta obra, se não a integridade, seriam aceitas’
[2].”

Profecias são raras em “A Doutrina Secreta”. A que se segue é particularmente fascinante pois foram dadas as datas específicas em que ela se realizaria:
[3]

“O total exato, a profundidade, a amplitude e a extensão dos mistérios da natureza só se encontram na ciência esotérica oriental. Eles são tão vastos e profundos que apenas um número muito restrito entre os mais altos Iniciados — aqueles cuja própria existência só é conhecida de uns poucos Adeptos — são capazes de compreender tais conhecimentos. Tudo, porém, está ali; e os fatos e processos do laboratório da natureza podem, um por um, abrir caminho na ciência exata, quando uma assistência misteriosa é proporcionada a uns poucos indivíduos em seus esforços para desvendar os seus arcanos. É no fim dos grandes ciclos relacionados com o desenvolvimento das raças que geralmente se produzem esses acontecimentos. Estamos chegando precisamente ao final do ciclo de 5000 anos do presente Kali Yuga ariano; e entre este momento [1888] e o ano de 1897 será feita uma enorme ruptura no véu da natureza, e a ciência materialista receberá um golpe mortal.”
[4]

Há duas partes na profecia. A primeira levanta a questão sobre se alguma descoberta científica notável seria permitida no período mencionado de nove anos. David Deitz, em seu trabalho “The New Outline of Science” (“Uma Nova Visão da Ciência”), nos dá uma visão geral bastante útil:

“A história da civilização mostra poucos contrastes maiores do que a diferença entre os pontos de vista dos físicos do século dezenove e do século vinte. Quando o século dezenove estava terminando, os físicos sentiam que haviam completado as suas tarefas. Um eminente cientista daquele tempo, ao fazer uma conferência em 1893, disse que era muito provável que as grandes descobertas no campo da Física já tivessem sido feitas. Ele esboçou a história e o desenvolvimento da ciência, resumindo ao final as teorias bem estruturadas do século dezenove — segundo ele afirmava — totalmente suficientes. O físico do futuro, disse ele tristemente, nada terá a fazer senão repetir e refinar as experiências do passado, acrescentando mais uma ou duas decimais a algum peso atômico ou constante da natureza.”
[5]

“Mas, dois anos mais tarde, no dia 28 de dezembro de 1895, Wilhelm Conrad Roentgen apresentava ao secretário da Sociedade de Física Médica de Würzburg o seu primeiro relatório escrito sobre a sua descoberta [acidental] dos raios-x. No primeiro dia de 1896, ele enviou pelo correio cópias do texto impresso para amigos cientistas em Berlim e outros lugares. Enviava com o texto algumas cópias das primeiras fotografias feitas por ele com os raios-x... das quais a mais espetacular mostrava os ossos de uma mão humana. Ali estava exatamente o que o orador de 1893 havia dito que não poderia ocorrer: havia sido feita uma nova descoberta... Roentgen havia encontrado alguns raios misteriosos que penetravam em objetos opacos tão facilmente como a luz do sol atravessa os vidros de uma janela. No século dezenove não havia físicos que pudessem explicar esse fenômeno surpreendente... Não só os físicos mas as pessoas por toda parte ficaram excitadas com a novidade. Roentgen ficou famoso da noite para o dia.” [Ele recebeu, em 1901, o Prêmio Nobel da Física.]

“A segunda grande descoberta no reino da física atômica foi a da radioatividade, realizada por Antoine Henri Becquerel em Paris, [em 1896] poucas semanas depois do anúncio de Roentgen. O pai de Becquerel, também físico, tinha investigado a fluorescência, o fato de que muitas substâncias submetidas à luz do sol reluziam mais tarde no escuro. Becquerel recordava o trabalho de seu pai e perguntou-se se havia alguma semelhança entre a fluorescência e os raios-x. Em função disso, ele envolveu uma chapa fotográfica em papel preto e colocou sobre ela um cristal de sal de urânio que o seu pai havia usado. Ele expôs este conjunto aos raios do sol. Ao revelar a chapa fotográfica, constatou que ela estava manchada ou escurecida como se alguma luz tivesse penetrado nela através do papel negro. Ele supôs que a ação da luz do sol tinha feito com que o urânio emitisse raios-x.”
[6]

Durante os preparativos para experiências posteriores, Becquerel descobriu acidentalmente não os raios-x que ele buscava, mas a radioatividade. Sobre o assunto, o eminente físico moderno Robert Millikan observa:

“A radioatividade era revolucionária para o pensamento humano, pois significava que alguns dos “átomos eternos”, isto é, os de urânio e tório, são instáveis e lançam fora espontaneamente com grande energia pedaços de si mesmos, desta forma transformando-se em outros átomos... De todas as novas descobertas, esta era a mais espantosa para o pensamento humano e estimulante para a imaginação, pois destruía a idéia da imutabilidade dos elementos e mostrava que os sonhos dos alquimistas poderiam tornar-se verdade um dia.”
[7]

A próxima “revelação” ocorrida dentro do período de tempo previsto em “A Doutrina Secreta” foi a mais importante de todas; a descoberta do elétron, em 1897, por sir J. J. Thomson. O dr. Karl Compton, ex-presidente do Instituto de Tecnologia de Massachusetts, fez o seguinte comentário em 1936, quando se afastava do cargo de presidente da Associação Americana Para o Progresso da Ciência:

“A história da ciência está cheia de exemplos de que um novo conceito ou descoberta pode levar a avanços tremendos em campos novos e vastos cuja própria existência era, até então, insuspeitada... Mas, do meu ponto de vista, nenhum exemplo foi tão dramático como o da descoberta do elétron, a menor partícula do universo que, no período de uma geração, transformou não só a estagnada ciência da Física, mas também uma Química puramente descritiva e uma estéril Astronomia em ciências que se desenvolvem dinamicamente, cheias de aventura intelectual, com interpretações inter-relacionadas e valores práticos.”
[8]

A descoberta de Thomson foi a culminação de uma série de experimentos iniciados por sir William Crookes, que se dedicava ao estudo das descargas elétricas em alto vácuo no tubo de Crookes, inventado por ele. Este tubo iria tornar-se um protótipo para os tubos de televisão e luz fluorescente usados hoje. As experiências de Crookes implicavam a existência de um quarto estado da matéria, que ele chamava de matéria radiante, e que, dez anos depois, constatou-se serem elétrons! É interessante que, em 1888, em “A Doutrina Secreta”
[9] , HPB predizia que: “a descoberta da matéria radiante do sr. Crookes conduzirá a um estudo mais completo sobre a verdadeira origem da luz, revolucionando todas as teorias atuais”.

A descoberta do elétron, observa o renomado físico norte-americano Robert Millikan, foi “extremamente útil para a humanidade, com suas milhares de extensões e aplicações para o rádio, para as comunicações de todo tipo, para a produção cinematográfica e inúmeras outras indústrias...” As descobertas científicas foram poderosamente aceleradas pelo uso de instrumentos eletrônicos.

A própria obra “A Doutrina Secreta” foi usada para diversas finalidades. O major Herbert S. Turner, inventor do cabo co-axial utilizado na telefonia e instalado de um lado a outro dos Estados Unidos no final da década de 1940, relacionou sua invenção com algumas passagens-chave de “A Doutrina Secreta”
[10] como o conceito de círculo-que-não-pode-ser-transposto [11] , aplicadas por ele em idéias de caráter profundamente oculto em relação ao mundo da energia física. [12]

A profecia de “A Doutrina Secreta” que estamos examinando afirma que como resultado da “enorme ruptura feita no véu da natureza... a ciência materialista receberá um golpe mortal”. Em “Time, Matter and Values” (“Tempo, Matéria e Valores”), após haver descrito as novas descobertas da Física, Millikan conclui: “como resultado, o materialismo dogmático na Física está morto”.
[13]

Raymond S. Yates, em seu livro “These Amazing Electrons” (“Esses Elétrons Surpreendentes”), assevera: “A velha escola estava em plena retirada. A Física estava totalmente confusa. Estava momentaneamente atordoada por uma avalanche de questões ponderáveis. O último tijolo sólido do edifício do materialismo caíra, e o pequeno e cômodo sistema de categorias e os refúgios engenhosos, construídos com tanto trabalho, haviam caído com um ruído surdo e inquietante”.
[14]

Segundo David Deitz, quando o século dezenove terminou já era claro que uma “verdadeira revolução acontecera no campo da Física”. Ele continua:

“Quatro descobertas significativas — os raios-x, a radioatividade, o elemento químico rádio e o elétron — convenceram os cientistas de que a sua tarefa estava apenas começando, e não terminando. Havia chegado o momento de invadir o interior do átomo. É arriscado, no entanto, afirmar que alguém pudesse prever, no começo do século vinte, os grandes avanços que seriam feitos na visão teórica, ou as aplicações espetaculares que surgiriam a partir desse novo conhecimento.”
[15]

O ciclo do despertar científico, que se seguiu à descoberta do elétron, continuou a aprofundar-se com três descobertas adicionais, que abalaram ainda mais os alicerces das doutrinas materialistas:

1898 — Rádio. O elemento descoberto por Marie Curie e seu marido, Pierre, é quatro vezes mais radiante do que o urânio de Becquerel.

1900 — A Física Quântica. Max Planck lançou as bases da teoria quântica em 1900 ao mostrar que a matéria emite e absorve radiação em pequenos pacotes ou quanta, mais tarde chamados de fótons por Einstein, ficando demonstrado que a luz pode, portanto, ser vista como partícula e como onda. (Mais de duas décadas depois, Louis de Broglie demonstrou que a matéria também se comporta com a dualidade partícula-onda). Em 1913, Niels Bohr afirmou que os elétrons saltam de uma órbita para outra em torno de um núcleo atômico ao absorver ou emitir quanta de energia, sem atravessar o espaço entre uma órbita e outra (em outras palavras, dão um salto quântico, expressão freqüentemente usada hoje em diversos contextos). Este foi um grande golpe contra a doutrina mecanicista.

1905 — A Equação de Einstein E = mc². A teoria de Einstein “acrescentou o reconhecimento de que a massa ou matéria é equivalente à energia, e de que o tempo e o espaço são partes integrantes do continuum de matéria-energia que constitui o universo”.
[16]

Como foi indicado no prefácio deste livro, um certo número de cientistas tem-se interessado por “A Doutrina Secreta”. De acordo com uma sobrinha sua, Einstein tinha sempre uma cópia dessa obra na sua mesa de trabalho. Detalhes do seu testemunho são dados na Nota 22 da Parte 7, ao final deste livro, onde se evidencia também que duas pessoas poderiam ter despertado o interesse de Einstein nesta obra.
[17] “A Doutrina Secreta” contém muitos ensinamentos que eram negados pela ciência nos dias de HPB, mas que foram comprovados mais tarde como verdadeiros, e é possível que essa obra contenha sugestões de outras verdades que ainda serão aceitas.

Aqui estão três exemplos de descobertas pré-configuradas por HPB, no campo da Física.

1 - Os átomos são divisíveis.


Sir Isaac Newton escreveu na sua obra “Optics” (“Ótica”) que: “No início Deus formou a matéria em partículas maciças, sólidas, duras, impenetráveis e em movimento, com os tamanhos, formas, propriedades e proporções em relação ao espaço que eram mais adequados ao objetivo em função do qual foram criadas”. [18] Mais tarde, os cientistas eliminaram a teologia contida nessa declaração, mas conservaram a idéia das “partículas duras e impenetráveis”, ou átomos, como os tijolos básicos da construção do universo. Quando o elétron foi descoberto em 1897, os tijolos começaram a fragmentar-se. O átomo era divisível.E aqui está o que HPB disse em “A Doutrina Secreta” [19]:

“O átomo é divisível e deve compor-se de partículas ou sub-átomos... A ciência do ocultismo é toda baseada na doutrina da natureza ilusória da matéria e na divisibilidade infinita do átomo.”

Quanto à divisibilidade infinita do átomo, um cientista amigo escreveu para esta autora: “A ciência avançou nessa direção só passo a passo — encontrando primeiro o elétron e depois os prótons, mais tarde os nêutrons e a seguir os quarks e outras partículas, pensando, a cada vez, que havia encontrado a última partícula. Agora, finalmente, chegou às ondas puras, como na teoria das cordas, que corresponde à ciência da D.S.”
[20]

Quando os quarks foram localizados pela primeira vez, Werner Heisenberg comentou:

“Mesmo que os quarks pudessem ser encontrados, segundo tudo o que sabemos, eles poderiam ser divididos novamente em dois quarks e um antiquark etc., e, assim, eles não seriam mais elementares que um próton... Nós teremos que abandonar a filosofia de Demócrito e o conceito de partículas elementares fundamentais. Devemos, em vez disso, aceitar o conceito das simetrias fundamentais, que tem base na filosofia de Platão.”
[21]

2 - Os átomos estão em movimento perpétuo.

Os cientistas do tempo de HPB não só acreditavam que os átomos eram indivisíveis mas também que eles eram imóveis, exceto no estado gasoso. “A Doutrina Secreta” declara:
[22]

“Diz o ocultismo que nunca a matéria se acha mais ativa do que quando parece morta. Um bloco de madeira ou de pedra está imóvel e é impenetrável em todos os sentidos. Não obstante, na realidade, suas partículas estão animadas por um movimento vibratório incessante, eterno, tão rápido que, para o olho físico, o objeto parece em absoluto desprovido de movimento; e a distância daquelas partículas entre si, no seu movimento vibratório, é tão grande — vista de outro plano de existência e percepção — como a que separa flocos de neve ou gotas de chuva. Mas, para a ciência física, esta idéia é um absurdo.”

Hoje é difícil pensar que algum dia isso foi considerado um absurdo.

Segundo “A Doutrina Secreta”, o movimento incessante dos átomos no que vemos como um objeto sólido está de acordo com uma lei universal subjacente ao cosmo de que “não há repouso nem interrupção de movimento na natureza”.
[23] Isso está de acordo com a visão de Einstein, segundo “The Theory of Relativity” (“A Teoria da Relatividade”), de Garrett Service:

“Pesquisas científicas mostram que, nas coisas infinitamente pequenas assim como nas infinitamente grandes, tudo é movimento... e não encontramos nada em repouso. Assim sendo, diz Einstein, o movimento deve ser visto como a condição natural e também real da matéria, algo que não necessita de ser explicado, porque surge da própria substância do universo. É a verdadeira essência da existência.”
[24]

Em “A Doutrina Secreta”, HPB afirma que “o movimento abstrato absoluto” é um símbolo do próprio Absoluto.
[25]

3 - Matéria e energia são conversíveis.

A ciência do século dezenove acreditava no oposto. Einstein desaprovou a crença antiga em 1905 com a sua famosa equação E = mc2. Millikan traduz a equação da seguinte maneira:

“m é massa em gramas; c é velocidade da luz em centímetros por segundo (30.000.000.000 cm/s); e E é energia em unidades de energia, isto é, em ergs. Expressa na linguagem comum de engenharia, a equação de Einstein diz que, se um grama de massa é transformado em calor a cada segundo, são gerados continuamente 90 bilhões de quilowatts de energia.”

“A concepção extraordinariamente importante aqui”, acrescenta Millikan, é que a própria matéria é conversível em energia radiante”.
[26] Uma maneira mais geral de explicar este fato agora comprovado seria dizer que a matéria é energia condensada, enquanto energia é matéria que se expandiu. HPB cita um trecho de um artigo da revista “The Path” (janeiro de 1887, p.297) em “A Doutrina Secreta” [27] :

“Como declarou um teosofista norte-americano, ‘as mônadas (de Leibnitz) podem ser consideradas como força, de certo ponto de vista; e, de outro, como matéria. Para a ciência oculta, força e matéria não são mais que dois aspectos da mesma substância’.”

Essa substância ela chamava de prakriti, que emana da matéria primordial, ou mulaprakriti (a raiz da matéria).

Em “Ísis Sem Véu”
[28], HPB postula diretamente a conversibilidade de força em matéria ao afirmar:

“Toda manifestação objetiva, seja no movimento do corpo de um ser vivo, seja no movimento de algum corpo inorgânico, requer duas condições: vontade e força — além de matéria, que é aquilo que faz com que o objeto que se move seja visível aos nossos olhos; e essas três são todas forças conversíveis...”

A referência que se segue
[29] é especialmente interessante, não só porque a expressão energia atômica indica que os átomos têm energia, mas porque HPB parece ter sido a primeira pessoa a usar esta expressão tão comum hoje:

“O ‘movimento ondulatório das partículas vivas’ torna-se compreensível com a teoria de um... Princípio Vital universal, que é espiritual, independente de nossa matéria e que se manifesta como energia atômica somente no nosso plano de consciência.”

Tendo em vista tudo o que foi dito antes, não é surpreendente ser informada pelos atuais editores de “A Doutrina Secreta” que eles têm recebido pedidos freqüentes de exemplares dessa obra feitos por professores universitários. Um professor do Instituto de Tecnologia da Califórnia comprou o livro diversas vezes nos últimos anos. Perguntado amavelmente sobre a razão disso, soube-se que, cada vez que um exemplar estava demasiadamente marcado, dificultando a sua leitura, ele comprava outro exemplar.

Esta escritora soube em 1982, quando visitava Boston e Cambridge, que os professores e alunos de química do Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT) estavam fazendo planos para investigar os ensinamentos em “A Doutrina Secreta” relativos às suas especialidades. Em 1988, soube-se, por meio de Philip Perchion, um cientista que havia trabalhado na bomba atômica, que professores e estudantes do MIT haviam formado uma sociedade alquímica e que estudavam regularmente “A Doutrina Secreta”. Ele também disse que ele e vários professores de química — a maior parte professores aposentados do MIT — encontravam-se periodicamente para discutir a D.S. no Harvard Club, em Nova Iorque.

Sylvia Cranston, autora do livro “Helena Blavatsky - a Vida e a Influência Extraordinária da Fundadora do Movimento Teosófico Moderno” (Ed. Teosófica) , foi associada da Loja Unida de Teosofistas, LUT, e teve uma longa vida dedicada à causa da teosofia. Morreu na segunda metade da década de 1990.


NOTAS:

[1] “The Secret Doctrine in the Light of Twentieth Century” (“A Doutrina Secreta à Luz do Pensamento do Século Vinte”), revista “Sunrise”, publicada pela Sociedade Teosófica de Pasadena, abril-maio de 1989, pp 150-151.

[2] Veja “A Doutrina Secreta”, H.P.B., ed. Pensamento, SP, volume III. Na edição em inglês, “The Secret Doctrine”, Theosophy Co., Los Angeles, veja vol. II, p. 442.

[3] Volume II, pp. 323-324 da edição em português de “A Doutrina Secreta”, Ed. Pensamento.

[4] “A Doutrina Secreta”, HPB, Ed. Pensamento, SP, volume II, pp. 323-324. Em inglês, “The Secret Doctrine”, vol. I, pp. 611-612.

[5] “O diretor do Departamento de Física da Universidade de Harvard desencorajava o estudo de graduação, pois só bem poucos problemas permaneciam sem solução”. (Gary Zukav, “The Dancing Wu Li Masters”, Nova Iorque, Bantam, , 1980, p. 311.)

[6] David Dietz, “The New Outline of Science” (“O Novo Perfil da Ciência”), Nova Iorque, EUA, Dodd, Mead, 1972,, pp. 259-263.

[7] Robert Millikan, “The Autobiography of Robert A. Millikan”, Nova Iorque, EUA, Prentice-Hall, 1950, pp. 272, 271. Em 1909, o próprio Millikan cumpriu um importante papel ao determinar as cargas elétricas exatas dos elétrons, e em 1923 recebeu o Prêmio Nobel de Física pela descoberta dos raios cósmicos.

[8] “Science”, 8 janeiro 1937, p. 598.

[9] Volume II, p. 333 da edição em português, da Ed. Pensamento.

[10] “A Doutrina Secreta”, volume I, pp. 176-179, especialmente 177. Em inglês, “The Secret Doctrine”, Theosophy Company, Los Angeles, Volume I, pp. 129-132.

[11] O círculo-que-não-pode-ser-transposto (ring-pass-not no original) é aquilo que separa o mundo da forma do mundo sem forma.

[12] “Theosophia”, volume 4, número 22, novembro-dezembro de 1947, p. 15.

[13] Robert Millikan, “Time, Matter and Values” (“Tempo, Matéria e Valores”), Chapel Hill, Carolina do Norte, EUA, University of North Carolina Press, 1932, p. 96.

[14] Raymond F. Yates, “These Amazing Electrons” (“Esses Eletrons Incríveis”), Nova Iorque, EUA, the Macmillan Company, 1937.

[15] Dietz, “The New Outline of Science”, p. 277.

[16] A. March e I.M. Freeman, “The New World of Physics” (“O Novo Mundo da Física”), 1963; citado na revista “Sunrise”, novembro de 1975, p. 81.

[17] Veja a Nota 22 da parte 7 do livro de Sylvia Cranston, completa, ao final do presente texto.

[18] M.R. Crossland, editor, “The Science of Matter”, Nova Iorque, EUA, Penguin, 1971, p. 76.

[19] Vol. II, p. 232 da edição em português.

[20] “Em 1984”, escreve Stephen Hawking, “houve uma mudança de opinião notável em favor do que é chamado de teoria das cordas ..... O que antes se via como partículas, é agora representado como ondas vibrando no cordel de uma pipa ou pandorga”. (Hawking, “A Brief History of Time” – “Uma Breve História do Tempo”, p. 158-160 da edição em inglês).

[21] Werner Heisenberg, “Science”, 19 de março de 1976, p. 1165.

[22] Volume II, p. 220 da edição em português.

[23] Blavatsky, “The Secret Doctrine”, vol. I, p. 97; veja também vol. I, pp. 2, 55 e nota de rodapé da p. 76.
[24] S. Garrett Service, “The Einstein Theory of Relativity” (“A Teoria da Relatividade de Einstein”), Nova Iorque, EUA, E. M. Radimann, 1928, p. 48.

[25] Vol I, p. 14 da edição em inglês.

[26] Millikan, “The Autobiography of Robert A. Millikan”, p. 273.

[27] Vol. II, p. 335 da edição em português.

[28] Página 260, no volume I, da edição brasileira. Em inglês, “Isis Unveiled”, Theosophy Co., Los Angeles, Vol I, p. 198.

[29] “A Doutrina Secreta”, vol. IV, p. 242, da edição em português. .


FONTE: Excerto do Capítulo 3, Parte 7, do livro “Helena Blavatsky”, de Sylvia Cranston, publicado no Brasil pela Editora Teosófica, em 1997.

O Desafio do Nosso Tempo: Integrar a Ciência e a Religião - Ken Wilber

NÃO HÁ, NO MUNDO MODERNO, nenhum tópico mais importante e atual do que a relação entre ciência e religião. A ciência é, indubitavelmente, um dos méto­dos mais profundos encontrados pelo homem para descobrir a verdade; ao passo que a religião ainda é a maior força produtora de significação. Verdade e sentido, ciência e religião: ainda não sabemos como juntá-los de maneira aceitável para ambos.

Reconciliar ciência e religião não é simplesmente uma curiosidade acadêmica passageira. Estas duas enormes forças, ou seja: verdade e significado, estão em guerra no mundo de hoje. A ciência moderna e a religião pré-moderna habitam agressiva­mente o mesmo planeta, cada qual competindo, à sua maneira, pelo domínio do mundo. Mais cedo ou mais tarde, uma delas terá de ceder.

A ciência e a tecnologia criaram uma estrutura global e multinacional de sistemas industriais, econômicos, médicos, científicos e de informação. Por mais bené­ficos que sejam esses sistemas, todos eles, em si, estão desprovidos de significado e de valor. Como seus próprios propositores lembram constantemente, a ciência nos diz o que é e não o que deveria ser. A ciência nos fala de átomos, moléculas, galáxias, dados digitais e sistemas de redes: ela nos diz o que alguma coisa é, mas não nos conta se ela é boa ou ruim, ou como ela poderia ou deveria ser. Assim, essa imensa infra-estrutura científica global é, em si mesma, um esqueleto sem valores, por mais funcionalmente eficaz que possa ser.

A religião entrou alegremente nesse colossal vácuo de valores. A ciência criou essa extraordinária estrutura mundial e global intrinsecamente destituída de valo­res. Mas, dentro dessa ubíqua moldura, bolsões subglobais de religiões pré-moder­nas têm criado valores e significado para bilhões de criaturas em todas as partes do mundo. E essas mesmas religiões pré-modernas muitas vezes negam validade à es­trutura científica na qual elas vivem e que lhes proporciona a maior parte da medi­cina, da economia, das finanças, das redes de informações, dos transportes e das comunicações. O significado religioso tenta florescer dentro do esqueleto científi­co da verdade, muitas vezes negando a própria estrutura científica, o que equivale a serrar o galho no qual se está sentado.

A repulsa é mútua, pois a ciência moderna jubilosamente nega na prática todos os princípios básicos da religião em geral. De acordo com o típico ponto de vista da ciência moderna, a religião não passa de um remanescente da infância da humanida­de, com a mesma realidade do Papai Noel, por exemplo. Quer as asserções religiosas sejam mais literais (Moisés abriu as águas do mar Vermelho), ou mais místicas (a religião envolve experiência espiritual direta), a ciência moderna nega todas elas, simplesmente porque não existem evidências empíricas confiáveis para nenhuma.

Assim é a bizarra estrutura do mundo de hoje: uma estrutura científica, que é global em seu alcance e onipresente por suas redes de informação e comunicação e que forma um esqueleto sem sentido, dentro do qual centenas de religiões subglobais e pré-modernas criam valores e significado para bilhões de pessoas. Mas ambas, ciência e religião, negam significado e até mesmo realidade, uma à outra. Isso cons­titui um cisma violento e uma ruptura nos órgãos internos da cultura global con­temporânea e é exatamente por isso que muitos analistas sociais acreditam que, se não surgir algum tipo de reconciliação entre elas, o futuro da humanidade será, na melhor das hipóteses, precário.

O Que Entendemos por “Religião”?

O objetivo deste livro é sugerir como começar a pensar, tanto na ciência como na religião, de maneira a possibilitar que elas se reconciliem e até mesmo se integrem, de forma aceitável para ambas as partes.

É claro que reconciliar ciência com religião depende, em parte, do que consi­deramos “ciência” e “religião”. Dedicaremos os capítulos 11, 12 e 13 exclusivamen­te a esse tópico. Enquanto isso, temos de levar alguns pontos em consideração.

Definir “religião” já é uma tarefa quase impossível, principalmente porque exis­tem tantos tipos que é difícil identificar o que eles têm em comum, se é que o têm. Mas uma coisa é óbvia: muitos dos princípios específicos e centrais das grandes religiões do mundo se contradizem mutuamente, mas, se não conseguirmos encontrar uma essência comum a todas as grandes religiões da humanidade, jamais conseguiremos a integração entre ciência e religião.

Na verdade, se não encontrarmos uma essência comum, aceita em geral pela maioria das religiões, seremos forçados a escolher uma religião e negar a importân­cia das demais; ou então teríamos de procurar princípios comuns entre as diversas crenças e, assim, alienar as suas próprias tradições. Jamais chegaríamos a integrar ciência e religião de forma aceitável por ambas as partes, pois a maioria das reli­giões rejeitaria o que foi feito às suas crenças para forçar essa reconciliação.

Não seria bom, por exemplo, como fizeram muitos criacionistas cristãos, sus­tentar que o big-bang indica que o universo é produto de um Deus criador pessoal, quando o budismo, uma das religiões mais profundas e influentes, nem sequer acre­dita num deus pessoal. Assim, não podemos usar o big-bang para integrar ciência e religião, a menos que primeiro encontremos uma forma de reconciliar o cristianis­mo com o budismo, e com as sabedorias tradicionais em geral. De outra forma, não estaremos integrando a ciência com a religião; estaremos simplesmente integrando uma versão estreita do cristianismo com uma das versões da ciência. Isso não me­receria o termo integração e certamente não é uma integração aceitável pelas ou­tras religiões.

Portanto, aqueles que desejam defender uma forma de religião em particular — quer seja a de um deus patriarcal, a de uma grande deusa matriarcal, a de um cristianismo fundamentalista, um xintoísmo mitológico, uma eco-religião gaia, um islamismo fundamentalista — tomam, muitas vezes, desenvolvimentos científicos modernos para tentar mostrar que tais desenvolvimentos, apenas por acaso, encai­xam-se numa generosa maneira de interpretar a sua religião em particular. Não será dessa maneira que trataremos do assunto. Pois o fato é que a reconciliação, longamente desejada, permanecerá mais sutil do que nunca, a menos que a ciência se mostre compatível com determinadas características comuns a todas as maiores tradições de sabedoria do mundo.

Assim, antes que possamos tentar integrar ciência e religião, temos de verificar se existe um fundamento comum entre as grandes tradições de sabedoria da huma­nidade. Essa essência comum teria de ser uma estrutura geral que, despojada de pormenores específicos e de conteúdos concretos, ainda fosse aceitável para a maioria das tradições religiosas, pelo menos abstratamente. Existe essa essência comum?

A resposta, aparentemente, é afirmativa.

A Grande Cadeia do Ser

Huston Smith, considerado uma das maiores autoridades em religião comparada, apontou, em seu maravilhoso livro Forgotten Truth, que praticamente todas as gran­des tradições de sabedoria concordam na crença da Grande Cadeia do Ser. Smith não está sozinho nessa convicção. De Ananda Coomaraswamy a René Guénon, de Fritjof Schuon a Nicholas Berdyaev, de Michael Murphy a Roger Walsh, de Seyyed Nasr a Lex Hixon, a conclusão é a mesma: a essência da visão de mundo religiosa pré-moderna é a Grande Cadeia do Ser.

De acordo com essa visão quase universal, a realidade é uma rica tapeçaria de níveis entrelaçados, abrangendo desde a matéria até o corpo, até a mente, até a alma, até o espírito. Cada um dos níveis mais elevados “envolve” ou “abarca” dimen­sões menores como se fosse uma série de ninhos, dentro de ninhos, dentro de ni­nhos do Ser. Isso ocorre de tal maneira que cada coisa ou acontecimento no mundo esteja entrelaçado com cada um dos outros e todos estejam finalmente envolvidos pelo Espírito, por Deus, pela Deusa, pelo Tao, por Brahma, ou pelo próprio Absoluto.

Como Arthur Lovejoy demonstrou abundantemente em seu clássico tratado sobre a Grande Cadeia, essa visão da realidade tem sido de fato “a filosofia oficial dominante da maioria da humanidade civilizada ao longo da maior parte de sua história”. A Grande Cadeia do Ser é a visão de mundo “adotada pela maioria das mentes especulativas mais sutis e pelos grandes mestres religiosos, tanto do Orien­te quanto do Ocidente”. Essa espantosa unanimidade de crenças religiosas profundas (FIGURA 1-1 — O GRANDE NINHO DO SER) levou Alan Watts a declarar categoricamente que: “Pouco percebemos a extre­ma peculiaridade da nossa própria posição e acreditamos ser difícil entender um fato simples que é um consenso filosófico de alcance universal, mantido pelas pes­soas que relatam as mesmas visões e ensinam a mesma doutrina essencial, quer vivam hoje ou tenham vivido há seis mil anos, quer seja no Novo México, no extre­mo Ocidente ou no Japão, no extremo Oriente,”

A Grande Cadeia do Ser — cuja denominação talvez não seja adequada, pois, como afirmei, a visão atual assemelha-se mais a um Grande Ninho do Ser, em que cada uma das dimensões maiores abarca ou envolve as menores — é uma situação muitas vezes descrita como de “transcendência e inclusão”. O espírito transcende mas inclui a alma, a qual transcende mas inclui a mente, a qual transcende mas inclui o corpo vital, o qual, por sua vez, transcende mas inclui a matéria. Eis por que o Grande Ninho é mais adequadamente mostrado como uma série de esferas ou círculos concêntricos, como indicado na figura 1-1.

Isso não quer dizer que cada uma das tradições religiosas de tempos imemoriais tenha possuído exatamente esse esquema particular de matéria, corpo, mente, alma e espírito; houve consideráveis variações dentro dele. Algumas tradições possuíam apenas três níveis básicos no Grande Ninho, em geral corpo, mente e espírito. Como Chõgyam Trungpa Rimpoche afirmou em Shambhala: The Sacred Path ofthe Warrior, essa hierarquia simples de corpo, mente e espírito foi, não obstante, a espinha dorsal até mesmo das primeiras tradições xamânicas, apresentada como hierarquia de ter­ra, homem e céu. Esse esquema de três níveis reaparece nas noções hinduístas e budistas dos três grandes estados do ser: grosseiro (matéria e corpo), sutil (mente e alma) e causal (espírito). Por outro lado, muitas dessas tradições têm também ex­tensas subdivisões do Grande Ninho, algumas vezes fragmentando-se em até cin­co, sete, doze ou mais níveis e subníveis.

Mas o ponto básico permanece essencialmente o mesmo: a realidade é uma série de ninhos, dentro de ninhos, dentro de ninhos, abrangendo desde a matéria até o Espírito, com o resultado de que todos os seres e todos os níveis são, finalmen­te, envoltos no abraço penetrante e amoroso de um Espírito sempre presente.

Cada um dos níveis mais elevados do Grande Ninho, embora contenha os seus menores, possui qualidades emergentes não encontradas no nível secundário. Des­sa forma, o corpo vital animal contém a matéria em sua composição, mas também acrescenta sensações, sentimentos e emoções, que não são encontrados nas pedras. Enquanto a mente humana contém emoções corporais em sua composição, também acrescenta faculdades cognitivas mais elevadas, como razão e lógica, que não são encontradas nas plantas ou em outros animais. E, enquanto a alma contém a mente em sua composição, ela também acrescenta cognições e afetos, como iluminação e visão arquetípicas, não encontradas na mente racional. E assim por diante.

Em suma, cada nível mais elevado possui as feições características de seus ní­veis inferiores, mas acrescenta elementos não encontrados nesses níveis. Ou seja, cada nível mais elevado transcende mas contém os seus inferiores. E isso significa que cada nível de realidade possui uma arquitetura diferente, por assim dizer.

Apenas por essa razão, cada nível de realidade, conforme as grandes tradições, associa-se a um ramo específico de conhecimento, indicados na figura 1-1: a física estuda a matéria; a biologia estuda os corpos vivos; a psicologia e a filosofia tratam da mente; a teologia estuda a alma e suas relações com Deus, e o misticismo estuda o Ente Supremo ou Vazio puro, a experiência radical do Espírito além de Deus e da alma.

Essa tem sido a visão de mundo predominante na maioria da história ou pré-história humanas, em uma variante ou outra. Ela é a espinha dorsal da “filosofia perene”, o consenso quase universal sobre o real sustentada pela humanidade na maior parte de sua existência sobre a Terra. Isto é, até o surgimento da modernidade no Ocidente.

A Moderna Negação da Espiritualidade

Com o surgimento da modernidade no Ocidente, a Grande Cadeia do Ser desapa­receu quase por completo. Como veremos, o Ocidente moderno, depois do Iluminismo, tornou-se a primeira grande civilização na história da humanidade a negar quase que totalmente a existência do Grande Ninho do Ser.

Em seu lugar apareceu uma concepção “plana” de um universo composto basi­camente de matéria (ou matéria/energia), e esse universo material, que inclui cor­pos e mentes materiais, podia ser melhor estudado pela ciência, e apenas pela ciên­cia. Assim, no lugar da Grande Cadeia que abrangia desde a matéria até Deus, havia a matéria e ponto final. E foi assim que a visão de mundo conhecida como materialismo científico tornou-se, no todo ou em parte, a filosofia oficial dominante do Ocidente moderno.

Muitos estudiosos de mentalidade religiosa notaram esse moderno “colapso” do Grande Ninho do Espírito e lamentam-no profundamente. Segundo eles, esse colapso deve ser atribuído a qualquer coisa, desde o paradigma newtoniano-­cartesiano até a dominação patriarcal desde a mercantilização capitalista dos va­lores até a agressão masculina contra a Deusa; desde o ódio à rede holística da vida e a desvalorização da natureza em favor das abstrações analíticas; desde a cobiça e luxúria materiais até a obsessão pelo ganho monetário. A lista das causas malévolas é praticamente infinita.

Por mais verdadeiras que possam ser essas explicações, nenhuma delas focaliza os problemas fundamentais. Como veremos, existem boas razões para que afirme­mos que a Grande Cadeia, em sua forma tradicional, tenha desmoronado. O Gran­de Ninho do Espírito simplesmente não conseguiu resistir a algumas verdades ine­gáveis trazidas pela modernidade. Se quisermos integrar a religião pré-moderna com a ciência moderna, a verdade inerente a ambas as partes deve ser levada a essa união. A modernidade possui um grande quinhão de novas verdades e novas des­cobertas. Ela está longe de ser o Grande Satã.

Ao mesmo tempo, a ascensão da modernidade foi marcada por seus próprios problemas graves, entre os quais o grande terremoto cultural provocado pelo co­lapso do Grande Ninho do Espírito. O ser humano não estava mais envolvido pelo Espírito, estava submerso na matéria: um universo pouco estimulante.

E assim chegamos a um ponto crucial. Nosso objetivo é integrar a religião pré-moderna com a ciência moderna. Já vimos que a essência da religião pré-moderna é o Grande Ninho do Ser. Mas qual será precisamente a essência da modernidade? Se estamos a ponto de integrar o pré-moderno com o moderno, e o pré-moderno é a Grande Cadeia, então o que significa o “moderno”? A chave para essa integração, há tanto tempo desejada, talvez esteja nessa direção negligenciada.

O Que é a “Modernidade”?

O que especificamente a modernidade legou ao mundo que as culturas pré-mo­dernas nunca tiveram? O que tornou a modernidade tão substancialmente diferen­te das culturas e épocas que a precederam? O que quer que tenha sido deve ser algo essencial para essa integração tão desejada.

Há muitas respostas para a pergunta: “O que é a modernidade?” A maioria delas é decididamente de caráter negativo. Diz-se que a modernidade marcou a morte de Deus, a morte da Deusa, a mercantilização da vida, o nivelamento das distinções qualitativas, as brutalidades do capitalismo, a substituição da qualidade pela quantidade, a perda dos valores e do sentido, a fragmentação da vida mundial, o terror existencial, um materialismo vulgar e desenfreado; tudo isso resumido na famosa frase de Max Weber: “desencanto do mundo.”

Sem dúvida, há muito de verdade em todas essas alegações, e trataremos delas em pormenores. Mas certamente a modernidade tem aspectos muito positivos tam­bém, pois nos trouxe as democracias liberais; os ideais de igualdade, a liberdade e a justiça, independentemente de raça, credo ou gênero; a medicina, a física, a biolo­gia e a química modernas; o fim da escravidão; o surgimento do feminismo; os direitos universais da humanidade. Tudo isso, certamente, é mais nobre do que um mero “desencanto do mundo”.

Não. O que precisamos é de uma definição ou descrição específica de modernidade que leve em conta todos esses fatores, bons (como as democracias liberais) e ruins (como por exemplo a disseminada perda de significado). Alguns estudiosos, de Max Weber a Jürgen Habermas, afirmam que o que define especifi­camente a modernidade é algo chamado “distinção das esferas de valores cultu­rais”- que significa a distinção da arte, da moral e da ciência. Enquanto essas esferas anteriormente tendiam a se fundir, a modernidade as diferenciou e deixou que cada uma seguisse seu próprio caminho, com sua própria dignidade, usando seus próprios instrumentos e seguindo suas próprias descobertas, livres de intrusões por parte das outras esferas.

Essa diferenciação permitiu que cada esfera fizesse descobertas profundas, as quais, se usadas sabiamente, poderiam levar a resultados “bons”, como a democra­cia, o fim da escravidão, o surgimento do feminismo e os rápidos avanços na medi­cina. Mas, se usadas sem critério, poderiam facilmente ser desvirtuadas e cair no “lado negro” da modernidade, como o imperialismo científico, o desencanto do mundo e os esquemas totalizantes de dominação mundial.

O brilhantismo dessa definição de modernidade, ou seja, que ela diferencia as esferas de valor da arte, da moral e da ciência, é que ela nos permite ver o que há por baixo tanto das boas novas quanto das ruins da modernidade. Essa definição, que ficará mais clara no decorrer dos próximos capítulos, leva-nos a compreender a nobreza e os desastres da modernidade, os quais analisaremos cuidadosamente.

As culturas pré-modernas certamente possuíam arte, moral e ciência. O pro­blema é que essas esferas eram relativamente “indiferenciadas”. Para dar apenas um exemplo, durante a Idade Média, Galileu não podia olhar livremente através do seu telescópio e relatar os resultados porque a arte, a moral e a ciência se fun­diam na Igreja e, portanto, era a moral da Igreja que definia o que a ciência podia ou não podia fazer. A Bíblia dizia (ou insinuava) que o Sol girava em torno da Terra e ponto final.

Mas, com a diferenciação das esferas de valor, alguém como Galileu poderia olhar pelo seu telescópio sem medo de ser acusado de heresia e traição. A ciência tinha liberdade de procurar a própria verdade, livre da dominação brutal de outras esferas. O mesmo se daria com a arte e a moral: os artistas poderiam, sem medo de punição, pintar temas que não fossem religiosos ou até mesmo sacrílegos, caso desejassem. E a teoria moral estaria livre para buscar uma vida boa, de acordo com a Bíblia ou não.

Por todos esses motivos, e mais alguns, essas diferenciações de modernidade tam­bém eram conhecidas como a nobreza da modernidade, pois foram responsáveis, em parte, pelo surgimento da democracia liberal, pelo fim da escravidão e pelos desconcertantes avanços nas ciências médicas, para citar apenas algumas delas.

Como veremos, as ‘más notícias” da modernidade consistiam em que essas esferas de valores não se separavam amigavelmente, mas em geral rompiam rela­ções por completo. As maravilhosas diferenciações da modernidade se transforma­vam em dissociação, fragmentação, alienação. A nobreza se tornou um desastre. O crescimento virou um câncer. A medida que as esferas de valores começavam a se dissociar, permitiam que uma ciência poderosa e agressiva começasse a invadir e a dominar as outras esferas e a impedir que a arte e a moral fossem levadas em conta pela “realidade” que se aproximava. A ciência se transformou em cientificismo —materialismo científico e imperialismo científico — que logo se tornaria a visão de mundo dominante e “oficial” da modernidade.

Foi esse materialismo científico que proclamou a desvalorização das outras es­feras de valores, tornando-as “não-científicas”, ilusórias ou coisa pior. E por essa mesma razão, foi o materialismo científico que declarou a inexistência da Grande Cadeia do Ser.

De acordo com o materialismo científico, o Grande Ninho de matéria, corpo, mente, alma e espírito, podia ser reduzido a sistemas de matéria apenas; e a maté­ria, quer no cérebro material, quer nos sistemas materiais de processos, responderia por toda a realidade, sem outro remanescente. Mente, alma e Espírito desaparece­ram, como na verdade desapareceu toda a Grande Cadeia, com exceção de seu lamentável degrau inferior. Em seu lugar, como tão bem lamentou Whitehead, per­maneceu a realidade como “algo enfadonho, sem som, sem cheiro, sem cor, apenas a precipitação do material, incessantemente e sem sentido”.

E foi assim que o moderno Ocidente tornou-se a primeira grande civilização, em toda a história da raça humana, a negar realidade substancial ao Grande Ninho do Ser. E nessa negação maciça e universal que tentaremos introduzir novamente a dimensão espiritual, mas em termos aceitáveis também para a ciência.

Conclusão

Integrar religião e ciência é integrar uma visão de mundo pré-moderna a outra moderna. Mas vimos que a essência da pré-modernidade é a Grande Cadeia do Ser, e a essência da modernidade é a diferenciação das esferas de valores da arte, da moral e da ciência. Assim, para integrar religião e ciência, temos de integrar a Grande Cadeia com as diferenciações da modernidade. Como veremos no próximo capítulo, isso significa que cada um dos níveis da tradicional Grande Cadeia preci­sa ser cuidadosamente diferenciado à luz da modernidade. Se conseguirmos fazer isso, estaremos satisfazendo a ambos: a reivindicação essencial da espiritualidade, ou seja, a Grande Cadeia; e a reivindicação essencial da modernidade, isto é, a diferenciação das esferas de valores.

Se essa integração for feita sem “trapaça”, vale dizer, sem que a religião ou a ciência sejam esticadas e deformadas a ponto de ficarem irreconhecíveis, será uma integração que poderá realmente ser aceita por ambas as partes. Uma síntese assim juntaria o melhor da sabedoria pré-moderna com o brilhante conhecimento mo­derno, unindo a verdade e o sentido, de uma maneira ainda não alcançada pela mente moderna.

FONTE: Excerto do Cap. I do livro “A União da Alma e dos Sentidos”, de Ken Wilber, publicado no Brasil pela Editora Cultrix, em 2001.

quinta-feira, 21 de maio de 2009

Como trilhar o caminho da Teosofia

“Como pode você discernir o real do irreal, o verdadeiro do falso? Só através do auto-desenvolvimento. Como conseguir isso? Primeiro, precavendo-se contra as causas do auto-engano. E isso você pode fazer dedicando-se, em determinada hora ou horas fixas, a cada dia, totalmente só, à autocontemplação, a escrever, a ler, a purificar suas motivações, a estudar e corrigir seus erros, ao planejamento do seu trabalho na vida externa. Estas horas deveriam ser reservadas como algo sagrado para este propósito, e ninguém, nem mesmo o seu amigo ou seus amigos mais íntimos, deveriam estar com você naquele momento. Pouco a pouco sua visão ficará clara, você descobrirá que as névoas se dissipam, que suas faculdades interiores se fortalecem (....) e a certeza toma o lugar das dúvidas.” [1]

[1] “Cartas dos Mestres de Sabedoria”, Transcritas por C. Jinarajadasa, Ed. Teosófica, Brasília, 1996, 296 pp., ver Carta II para Laura Holloway, p. 146.

quinta-feira, 14 de maio de 2009

Os Ideais da Teosofia – Annie Besant

Trinta e seis anos conta a Sociedade Teosófica, trinta e seis anos de bom e mau tempo. Não deixa pois de ser natural que se pergunte: "Que valor tem para o mundo essa Sociedade? O que pode ela fazer para o bem da humanidade? O que tem ela já feito nesse sentido?" Nestas quatro conferências não me proponho senão dizer algumas palavras casuais sobre a Teosofia como um grande movimento espiritual, como uma poderosa auxiliadora das religiões do mundo. Todos vós sabeis o que ela tem feito, detendo e fazendo recuar a onda do materialismo, e o que continua fazendo nesse sentido. Sabeis também o que ela tem feito no sentido da revivescência das religiões, da liberalização das ortodoxias do mundo, o auxílio que tem levado a vários países chamando-os a um conceito mais espiritual da religião. De todos os lados vemos que francamente se confessa que na revivescência dos sentimentos religiosos, que se nota tanto no Oriente como no Ocidente, a Teosofia tem tido um papel não só importante, mas capital. Aqueles que são inimigos de todas as religiões atacam-na, naturalmente, em especial pelo que ela tem feito neste sentido. Mas aqueles que amam a religião, mais e mais se têm convencido da utilidade da Teosofia.

Dessa parte do nosso trabalho, porém, que é tão conhecida, e tantas vezes tem sido descrita, não me proponho tratar agora. Desejo, antes, responder à pergunta: "O que tem a Teosofia a acrescentar à inspiração geral que emana de todas as grandes religiões? O que, de especialmente valioso, ela traz a este mundo? Que luz derrama ela sobre os problemas da vida, e de que modo os esclarece? Que inspiração utilizável e prática ela dá, ao mover os espíritos de homens e mulheres para servir à causa real dos seus semelhantes?"

Vou tentar mostrar-vos, nestas conferências, que os ideais, que são especificamente os Ideais da Sociedade Teosófica, têm um valor real mesmo no plano físico. Que nós não somos meros sonhadores, como alguns nos julgam; que nós nem sempre vivemos nos céus, ainda que ali subamos às vezes para de lá trazer a inspiração que nos guie para que melhor nos desempenhemos de nossa missão na terra. Vou tentar demonstrar que, mesmo do ponto de vista utilitário, a Teosofia pode justificar-se perante um mundo cético pelos Ideais que ergue, e pelo valor da aplicação prática desses ideais aos trabalhos da vida.

O que um Ideal Significa

Em primeiro lugar, o que queremos dizer com a palavra "Ideal"? Evidentemente que, antes de mais nada, um Ideal é uma idéia, um conceito construído pelo espírito. É esta a primeira parte da definição de um Ideal. Mas ele não é apenas um conceito ou uma idéia; pois que muitas idéias, passageiras, mutáveis, frívolas, constantemente estão atravessando o espírito humano, na sua constante atividade, e a estas não se pode dar o nome de Ideais. Para haver um Ideal é preciso haver mais alguma coisa do que uma idéia. O ponto seguinte, portanto, na definição, é que Ideal é uma idéia fixa, não um pensamento passageiro. É uma idéia que não muda, que não varia, que é fixa e estável, que exerce uma forte influência sobre o espírito. Eis, pois, a segunda parte da definição da palavra Ideal: um Ideal é uma idéia fixa.

Mas, além disso, um Ideal é uma idéia construtiva, uma idéia vitalizadora, e que, portanto, tem um efeito sobre o caráter. Um Ideal é uma idéia, não morta, mas viva, exercendo uma forte influência sobre a vida. De sorte que chegamos a conceber um Ideal como sendo uma idéia ou um conceito caracterizado pela fixidez e pelo seu poder construtivo do caráter.

Temos, porém, ainda um pouco a acrescentar à nossa definição, antes que percebamos totalmente o que um Ideal significa. Uma idéia falsa pode ser fixa - uma idéia fixa que não está em harmonia com os fatos e com a natureza das coisas. Uma destas idéias fixas produz o maníaco, mas não o Herói ou o Santo. De modo que temos que acrescentar um adjetivo a essa palavra "idéia". Tem de ser uma idéia verdadeira, uma idéia justa, uma idéia que esteja em harmonia com os fatos e de acordo com a verdade.

A idéia fixa, tal qual os psicólogos a conhecem, tem certas características. Já disse que ela pode produzir um maníaco; porque é característico de uma idéia fixa, no sentido vulgar da expressão, que ela domina o espírito e exclui as influências que se lhe opõem. É quase inútil argumentar contra ela. As influências usuais da vida, que atuam sobre o espírito humano, recuam ao bater de encontro à idéia fixa, do mesmo modo que as ondas recuam, quebradas ao bater de encontro a um rochedo. Por isso uma idéia destas pode ser um perigo e não um auxílio, um mal e não um bem. Mas, mesmo quando a idéia fixa seja boa e verdadeira, mais alguma coisa é preciso para que ela seja realmente um Ideal Teosófico. A idéia que é boa e verdadeira produz o Herói e produz o Santo; mas aquela que torna um homem um servidor útil da humanidade é uma idéia fixa que é boa e verdadeira, mas que ele possui, e não ela a ele. Não há aqui uma mera sutileza ou um simples jogo de palavras. Há uma profunda diferença, na evolução, entre uma idéia fixa dominar um indivíduo, e um indivíduo dominar uma idéia fixa. Lembram-se decerto, de que Patanjali, no seu Yoga Sutras, ao traçar os estágios da evolução intelectual, observa que o homem que está possuído por uma idéia fixa está perto da porta da Ioga. Sim: isto é verdade. É um sinal de evolução acima do vulgar, isto de uma idéia que seja uma inspiração nobre e verdadeira, possuir um homem a tal ponto que nenhum dos usuais argumentos mundanos pode fazer com que ele abandone a sua atitude; mas é sinal de uma evolução ainda mais alta quando a idéia nobre é possuída por ele como um instrumento, e não o possui como um dono. Uma idéia deve ser serva do Espírito, a fim de dominar a natureza inferior e coagi-la ao serviço da superior. Por isso Patanjali sabiamente traça a distinção, e aponta que a idéia
fixa possuindo um indivíduo o traz para perto da porta do Caminho; mas que é só quando o Indivíduo possui a idéia e não é possuído por ela que os seus pés podem transpor o limiar dessa porta.

Um Ideal é, pois, uma idéia fixa, justa ou verdadeira possuída pelo indivíduo, e a tal ponto viva que influencia o seu caráter. Este último ponto não deve nunca ser esquecido. Porque um Ideal que não vivemos torna-se um ídolo, e muitas vezes resulta ser um obstáculo em vez de um auxílio. Formar o caráter, inspirar o coração, iluminar o espírito, eis o valor de um Ideal. Temos que meditar num Ideal desses para que o possamos reproduzir dentro de nós. Porque o homem, como diz o Upanishad, é criado pelo pensamento e torna-se aquilo em que mais pensa. O pensamento forma o caráter, e a vida torna o pensamento fértil.

Fica, pois, feita a definição da palavra Ideal. Ora, quais são os Ideais da Teosofia?

A Importância da Liberdade de Pensamento

Há duas idéias-bases que parecem constituir a raiz de toda a nossa Sociedade. Qualquer destas idéias, se bem a compreendermos e a vivermos, tem sobre a vida um poder de elevação. Mal concebidas, ou postas de parte, atrofiam o nosso crescimento e prejudicam o nosso progresso. A primeira destas duas idéias sobre as quais a nossa Sociedade assenta, é a idéia da Liberdade Intelectual (9). É impossível exagerar o poder sem preço da razão, reflexo da Divina Sabedoria que vive no cérebro do homem. A liberdade de pensar, de usar da nossa razão ao máximo, de pôr em dúvida toda a proposição e todo o fato - com isto a razão cresce e a inteligência se expande. Só quando a inteligência existe em absoluta liberdade, pode o homem atingir a sua verdadeira grandeza como viva inteligência espiritual, sondar as profundezas do ser e realizar as suas possibilidades divinas.

Por que isso é tão necessário? Deveis lembrar-vos que há pouco houve quem dissesse - e disse-o, com certeza, antes de pensar no que dizia, e não depois - que o hinduísmo é contra a liberdade de pensamento. Eis uma idéia que é com certeza uma idéia falsa, uma idéia errada, que briga tanto com a história como com os fatos. No hinduísmo encontrareis escolas de filosofia tão diferentes entre si quanto é possível, e nem por isso deixam de ser consideradas "ortodoxas", que estão todas patentes ao estudo do espírito investigador e que em muitos pontos se contradizem umas às outras. O hinduísmo permitiu e fomentou a mais ampla liberdade de pensamento, e nunca tentou cortar as asas da Ave Divina que sobe até a luz do Sol da Verdade. A inteligência é como uma águia que sobe até o Sol, e a inteligência humana pode na verdade subir até onde quiser; nada tem o direito de impedir o seu vôo exceto a sua própria incapacidade de voar mais. Há coisas que a razão não pode abranger, mas aquelas que pode, consegue abranger, se quiser.

Compreendeis decerto por que foi que eu disse que uma das pedras em que se assenta a nossa Sociedade é a liberdade intelectual; a natureza humana. é tal que o conhecimento é a sua própria essência, e que quanto mais o homem investiga, mais se aproxima da verdade. O espírito de um homem, no mais alto sentido da palavra "espírito", só se sente satisfeito quando conseguiu abranger e assimilar a verdade. Por isso erram também aqueles que pensam que a verdade é uma coisa que se deve provar. Não é assim. A verdade não é uma coisa que se deve provar a um espírito cuja natureza é conhecer. Basta ser vista para ser aceita. Aqueles que não crêem não vêem a verdade, e não há crenças que abram os olhos a um cego.

Tudo o que é preciso para achar a verdade é um coração puro, uma inteligência ativa e uma vida limpa. São estas condições que têm de ser preenchidas por quantos queiram saber a verdade, a verdade que é Brahman, o Eterno. Ninguém tem o direito de impor condições para a procura da verdade, salvo aquelas que estão na própria natureza da coisa procurada, e são portanto as condições naturais e inevitáveis para se poder encontrá-la. De mais a mais a imposição de um credo pode formar hipócritas, mas nunca conhecedores da verdade. Às almas infantis é preciso dar instrução, e elas têm que ser ensinadas pelos adultos; esse ensinamento lhes é preciso. É este o lugar da religião dogmática. Mas esta instrução dada à alma infantil não é o conhecimento senão quando for assimilada. Na nossa sociedade, portanto, deixamos livre a procura da verdade, e o nosso laço, que nos une a todos, como dizemos em uma das nossas circulares, é, não uma crença comum, mas um desejo comum de encontrar a verdade e de vivê-la.

Ideais Inspiram Mais do que Mandamentos

A segunda grande idéia sobre a qual assenta a nossa Sociedade é que as emoções de um homem evoluído guiam-se melhor por Ideais inspiradores do que por códigos e leis. É esta a segunda pedra sobre a qual se ergue a nossa Sociedade. Há duas maneiras de ensinar moralidade. Uma diz: "Farás isto e não farás aquilo". Impõe mandamentos e proibições, e obriga por meio de penas à obediência a esses mandamentos. A outra ergue o Ideal de amor nobre e do sacrifício de si próprio, da pureza e do auxílio, e deixa que estes, pelo seu poder sobre o espírito, consigam que os homens imitem as vidas nobres e assim as realizem. A primeira é a maneira que forçosamente têm de empregar o Estado e todos os governos laicos; ao passo que a outra é a de toda verdadeira Religião, que leve um indivíduo a seguir uma vida espiritual. Porque a nossa Sociedade é uma Sociedade espiritual, e porque crê que o homem é fundamentalmente divino e não demoníaco, que a razão é um tesouro sem preço e não uma ilusão, que a inteligência precisa ser livre para poder investigar todos os assuntos, que o Belo, o Bom, o Verdadeiro basta serem vistos para serem amados, por isso dedicamos a nossa Sociedade à inspiração de grandes Ideais, e não à difusão de qualquer crença estreita ou estreito código de leis. Se um irmão cai, preferimos tirá-lo do atoleiro, ajudando-o a sair, a excluí-lo da Sociedade por indigno do nosso convívio.

São estas as pedras sobre as quais assenta a nossa Sociedade, e, enquanto sobre elas assentar, durará.

Os Ideais da Teosofia

Vejamos agora os Ideais que escolhi para nosso estudo nestas conferências. Três deles estão inclusos nos nossos três objetivos. O primeiro desses objetivos (10) oferece-nos ao ideal da Fraternidade Humana; e deste partem como corolários, a Reencarnação e o Carma, porque estes dois são como depois mostrarei, implícitos na idéia da Fraternidade Humana. O segundo objetivo (11) da Sociedade revela o Ideal da Tolerância. Por tolerância não se entende aquela atitude arrogante que diz: "Podeis pensar como quiserdes", com um desprezo fundamental pelo pensamento do outro indivíduo; mas aquela tolerância bem entendida que nasce do nosso reconhecimento do valor da fé e da crença de outrem, que estuda as várias mensagens do Divino ao mundo que as várias religiões nos revelam, uma tolerância que aumenta com o estudo comparado das religiões, onde aprendemos tanto a unidade como as divergências delas, e pela qual aprendemos a respeitar a alma de cada indivíduo e compreendê-lo como procurando o seu caminho para a verdade, no qual ninguém tem direito de intervir. O terceiro Ideal é a Ciência, o Verdadeiro Conhecimento, e a procura desta forma o terceiro objetivo (12) da nossa Sociedade. Trata-se de uma Ciência que inclui o lado superfísico, como o físico, da natureza, que tanto se ocupa de estudar os poderes latentes no homem e na parte oculta das coisas, como aquilo que a vulgar ciência moderna tem descoberto. Assim, três Ideais da nossa Sociedade de que tratarei são: (1) a Fraternidade; (2) a Tolerância; (3) o Conhecimento.

São estes três dos nossos Ideais, pertencentes a toda a nossa Sociedade. E há ainda um quarto Ideal, do qual também tratarei, seguido por alguns dos membros dela: eles procuram encontrar os Homens Perfeitos que são os tipos da Humanidade Divina. Estão absolutamente convencidos da Sua existência e prontos a seguir o Caminho que até Eles conduz. Este Ideal é a afirmação da natureza espiritual e portanto da perfectibilidade humana. Ele atrai de vários modos muita gente, e é talvez, para alguns, o mais sedutor de todos os nossos Ideais; o seu estudo é à parte da organização externa da Sociedade Teosófica; mas é também a missão da nossa Sociedade ensinar aqueles que desejem ser ensinados nos íntimos círculos do nosso movimento, a trilhar o caminho estreito e antigo que conduz aos pés dos Mestres.

São estes, pois, quatro dos grandes Ideais da nossa Sociedade, e traçá-los-ei um por um nestas conferências. Mas não se deve esquecer que nenhum deles, salvo o primeiro, é obrigatório para todos os nossos membros. Não há condição para o ingresso em nossa Sociedade salvo a aceitação do primeiro Ideal, a saber, a Fraternidade da Humanidade, sem distinção de crença, raça, sexo, casta ou cor. É esta a única condição para ser membro. Mesmo a crença nas doutrinas da Reencarnação e do Carma e na existência dos Mestres não é indispensável para se ingressar. Mas a Sociedade existe para espalhar estes ensinamentos através de quantos pelo estudo têm aprendido a aceitá-los. Temos a certeza de que a verdade convence, e enquanto procurarmos seguir a verdade, a Sociedade estará segura; tudo está e estará bem, desde que os seus membros estudem as grandes verdades da vida. E a Sociedade vive para espalhar e ensinar estes Ideais àqueles que estiverem dispostos a aprender, ou que os aceitarem. Mas se um indivíduo disser: "Não aceito estas doutrinas da Reencarnação e do Carma", nem por isso o seu lugar deixa de ser tão seguro entre nós como o daqueles que chegaram a um estágio onde estas verdades são fatos para eles.

De resto, a grande maioria daqueles que entram para a nossa Sociedade, mais cedo ou mais tarde aceitam estas verdades. E então se tornam aptos a aceitar também os Ideais que sobre elas se baseiam. Mas há uma grande diferença entre aceitar um Ideal, e aplicar esse Ideal às circunstâncias da vida quotidiana de um indivíduo. Deveis compreender bem que, ao aplicar os nossos Ideais à prática, estou falando apenas daquilo que me parece ser verdadeiro. Mas as minhas palavras não obrigam nenhum dos meus co-associados. Há tanta gente com o costume de se fazer eco de um orador, de refletir as opiniões dos outros, de seu jornal ou autor predileto, que tem dificuldade em acreditar que, numa Sociedade como a nossa, os membros podem ouvir as palavras de alguém que é considerado chefe, e contudo exercer o seu próprio critério para aceitar ou rejeitar o que esse chefe lhes diz. Consideram isso impossível. É porque muita gente esquece isto, e porque mesmo alguns dos nossos membros o esquecem, que torno a lembrar-vos que, conquanto o Ideal da Fraternidade nos obrigue a todos, o que eu penso quanto à aplicação desse Ideal à vida é a minha opinião do que deve ser a justa aplicação, e dessa opinião poderão discordar, e discordarão, muitos dos meus co-associados. Estou aqui para vos dizer o melhor que me é possível dizer-vos; mas é convosco, inteiramente, avaliar por vós do seu valor e seguir ou não o que digo, conforme melhor vos pareça.

A Vida Divina é a Raiz da Igualdade Humana

Com a Fraternidade muitas vezes se liga a idéia de igualdade humana. E num certo sentido essa igualdade existe. Porque o que é a raiz da verdadeira igualdade humana? É o fato de que a Divina vida una está em cada um de nós e em todos. Esse fato não se limita apenas ao homem. É verdadeiro também quanto ao animal, ao vegetal e ao mineral. Não há grão de pó em que a vida de Deus não esteja imanente. Não há altíssimo Deva em que essa mesma vida não esteja manifestada. Não há outra vida que não a Sua; não há outra consciência que não a Sua; não há outra Vontade que não a Sua; nem outro agente que não seja Ele. Há só uma vida, uma consciência e um poder, e são a vida, a consciência e o poder de Ishvara (Deus), que estão em tudo quanto Ele emanou. Eis a raiz da igualdade humana, e é esta a única espécie de igualdade que existe. Como os irmãos numa família são todos do mesmo pai e da mesma mãe, assim é a Fraternidade humana, e de tudo quanto vive num universo onde nada está morto. A vida humana é uma parte daquela Vida-Mãe de quem todos nós somos filhos.

A Fraternidade nas Diferenças: A Grande Família Humana

Eis, pois, a única igualdade verdadeira, a de que Deus vive por igual em tudo quanto existe. Todos têm oculta dentro de si a possibilidade de subir até a máxima perfeição; todos têm a certeza da perfeição final. Mas no decurso da evolução, na longa cadeia evolutiva da vida, eis onde surgem as desigualdades. É este um fato que freqüentes vezes esquecem aqueles que falam de igualdade. Reparai contudo ao vosso redor; transportai-vos em imaginação até a grande porta do nascimento, onde a multidão das almas se aglomera para tomar corpo em formas novas. Uma entra para uma forma saudável e forte; outra entra para uma forma poluída pelos germes da doença hereditária. Uma entra para uma forma de estatura nobre e esplendidamente talhada; outra para uma forma aleijada e tosca. Uma mostra as qualidades de um santo; outra as qualidades de um criminoso. Uma torna-se um filantropo; outra revela-se um bárbaro. Acaso estas almas são iguais? Desde o seu próprio nascimento elas trazem o cunho da desigualdade (13). Ah! De que nos serve iludirmo-nos com palavras vazias de sentido? De que serve dizer dos homens que eles nascem iguais, e falar de uma igualdade universal que a natureza nega? Há, com efeito, muita desigualdade social que podeis remover. Mas essa é muito menos importante. É a desigualdade natural que é muito mais grave. E a essa muitos esquecem, quando falam tanto de nações como de indivíduos. É a diferença de capacidades inatas que importa verdadeiramente (l4), e não a de posições sociais; é essa que separa uma nação de outra, um indivíduo de um outro indivíduo. Observais um homem a quem surge uma oportunidade, e ele passa por ela cegamente sem a ver. Um outro homem, quando uma dessas oportunidades lhe aparece, imediatamente se adianta a aproveitá-la, ou, se ela não se aproxima bastante dele, abre caminho até ela, até que a tem nas mãos. Ah! É aí que está a desigualdade que não há leis humanas que alterem, que não há condições sociais que evitem. Uma igualdade de oportunidades para todos (15) - talvez a possais conseguir num futuro muito distante; mas uma igualdade de capacidades para utilizá-las - isso nunca podereis conseguir. O poder de consegui-la não pertence aos homens de nenhuma geração. De modo que temos que olhar de frente o fato de que a Fraternidade não quer dizer igualdade, mas uma Fraternidade real de mais velhos e mais novos, uma grande família humana em que uns são muito mais velhos do que outros, e alguns muito novos, muito ignorantes, e muito imprudentes.

A Teosofia quer que tentemos compreender que muitas escolas são dadas pelo grande Mestre para a evolução das almas a que chamamos homens. As raças e sub-raças são c1asses nestas escolas; e assim notamos, como muito bem disse um orador numa das nossas assembléias anteriores, que as diferenças nacionais e as diferenças raciais são valiosas, e não são para se lamentar. Hoje se fala muito em internacionalismo, em ser-se cosmopolita e outras coisas assim. Mas só se pode ser verdadeira e utilmente cosmopolita depois de se terem aprendido as lições das diferentes nações do mundo. Só o Mestre é realmente cosmopolita, porque Ele nada mais tem a aprender, que a terra lhe possa ensinar. As vossas peculiaridades nacionais, as vossas particularidades raciais, são as lições pelas quais as almas aprendem, e pelas quais mais e mais evoluem à medida que o tempo passa. Não podemos abandonar essas diferenças, não podemos passar sem elas. Abandonai a noção de que uma sub-raça deva necessariamente ser superior à outra, por ter aparecido depois dela no tempo. Ouvimos alguns dizer: "Pois sim, mas a sub-raça teutônica deve estar muito acima da raça radical ariana, visto que é muito mais recente no tempo." Isto não é totalmente exato, porque a raça mais antiga também evoluiu enquanto as sub-raças mais modernas se desenvolveram. Todas têm atrás de si o mesmo espaço de tempo. Mas as sub-raças têm qualidades diferentes, e é nisso que está o seu valor - não simplesmente em que são mais recentes no tempo. Quem ousará dizer que a turaniana foi uma sub-raça mais nobre do que a tolteca, só por ter sido a quarta sub-raça, ao passo que a tolteca era a terceira? Diferenças por certo que existem, mas não necessariamente de superioridade e inferioridade. É, portanto, falso querer afirmar superioridade baseando-a num aparecimento mais recente. Do mesmo modo a quarta sub-raça da Raça Ariana, isto é, a grega, não é inferior à quinta sub-raça. Não tem ela a sua idéia de Beleza a dar ao mundo? A diferença entre a quarta e a quinta sub-raças é que, ao passo que a quarta sub-raça desenvolveu a emoção da beleza, na sub-raça teutônica vemos que evoluiu a mentalidade científica concreta. Quem dirá qual destas é a mais elevada? Será a Arte inferior à Ciência ou esta àquela? A verdade é que todos as principais características das sub-raças contribuem para a formação do Homem Perfeito, e que as sub-raças constituem a escola pela qual temos todos de passar, para que possamos desenvolver por igual todas as faces da nossa natureza. Todas estas raças e sub-raças são classes onde temos que aprender as nossas lições. De modo que nas diferenças destas raças e sub-raças nada há que impeça a Fraternidade. Algumas delas desenvolveram uma face da natureza humana, e outras outra. E só na união de todas se pode achar a perfeição humana. Mas para compreender a Fraternidade, temos que nos lembrar que a evolução procede por reencarnação sob a lei do carma. O indivíduo tem de passar por todas as classes, assimilando as suas qualidades, sem o que será um produto muito incompleto; quando tivermos todos aprendido as nossas lições, ternos-emos tornado dignos de imortalidade. Ora, vós, na vossa maioria, acreditais nessas duas grandes doutrinas, e nas vossas vidas individuais elas têm grande influência. Por que é que não as aplicais às nações, como aos indivíduos, aos problemas sociais, como ao auxílio do vosso desenvolvimento pessoal? À medida que as idéias da reencarnação e do carma fizerem caminho no mundo ocidental, que tem o hábito de pôr os princípios em prática, parece-me que veremos que este Ideal de Fraternidade sob a lei da reencarnação e do carma resolverá muitos dos problemas sob o peso dos quais o mundo ocidental hoje está gemendo.

NOTAS:

(9) LIBERDADE DE PENSAMENTO: "Como a Sociedade Teosófica espalhou-se amplamente pelo mundo, e como membros de todas as religiões tornaram-se filiados a ela sem renunciar aos dogmas, aos ensinamentos e às crenças especiais de suas respectivas fés, é considerado desejável enfatizar o fato de que não há nenhuma doutrina, nenhuma opinião, ensinada ou sustentada por quem quer que seja, que esteja de algum modo constrangendo qualquer membro da Sociedade, nenhuma que qualquer membro não seja livre para aceitar ou rejeitar. A aprovação dos seus três Objetivos é a única condição para a filiação. Nenhum escritor ou instrutor, a partir de H. P. Blavatsky, tem qualquer autoridade para impor seus ensinamentos ou suas opiniões sobre os associados. Cada membro tem igual direito de seguir qualquer escola de pensamento, mas não tem o direito de forçar qualquer outro membro a tal escolha. Nenhum candidato a qualquer cargo, nem qualquer votante, pode ser tornado inelegível para concorrer ou votar por causa de suas opiniões ou por sua filiação a qualquer escola de pensamento. Opiniões e crenças não concedem privilégios nem in1ligem penalidades. Os Membros do Conselho Geral solicitam seriamente que cada membro da Sociedade Teosófica mantenha, defenda e aja de acordo com estes princípios fundamentais da Sociedade e também exerça destemidamente seu próprio direito de liberdade de pensamento e de expressão, dentro dos limites da cortesia e da consideração para eom os demais." (Resolução aprovada pelo Conselho Geral da Sociedade Teosófica em 23 de dezembro de 1924 e modificada em 25 de dezembro de 1996). (N. ed. bras.)

(10) Formar um núcleo da Fraternidade Universal da Humanidade, sem distinção de raça, credo, sexo, casta ou cor. (N. ed. bras.).

(11) Encorajar o estudo de Religião comparada, Filosofia e Ciência. (N. ed.bras.)

(12) Investigar as leis não-explicadas da Natureza e os poderes latentes no homem. (N. ed. bras.).

(13) A Filosofia hindu explica as diferenças nos seres humanos a partir da Lei do Carma pela colheita do resultado de diferentes ações em vidas anteriores. A Tradição judaico-cristã apresenta semelhanças: "Tudo o que o homem semear, isso também colherá" (Gálatas 6:7); "Eu era um menino bom, dotado de uma boa alma, ou antes, como era bom, vim para um corpo sem mácula". (Sabedoria 8: 19-20). (N. ed. bras.).

(14) As diferenças de capacidade ou dons estão indicadas na tradição cristã pela relação de harmonia do Senhor com os seus servos, como uma expressão da Lei do Carma, na parábola dos talentos: "E a um deu cem talentos, e a outro dois, e a outro um, a cada um segundo a sua capacidade ... " (Mateus 25: 15). (N. ed. bras.)

(15) Este é, portanto, um ideal que qualquer governo deve buscar em todas as áreas e também deve ser abrangido numa rigorosa proporcional idade em qualquer sistema eleitoral, como aquele considerado pelo Sr. N. Sri Ram, ao comentar a proposta da autora. (Vide Apêndice II, nota 55 e 61). (N. ed. bras.).

FONTE: Excerto do Capítulo I do livro “Os Ideais da Teosofia”, de Annie Besant (1847-1933), 2ª Presidente Internacional da Sociedade Teosófica, publicado no Brasil pela Editora Teosófica, em fevereiro de 2001. O livro consiste de quatro conferências proferidas pela autora nos dias 27, 28, 29 e 30 de dezembro de 1911, durante a 36ª Convenção Anual da Sociedade Teosófica, realizada em Benares, Índia.